19 de dezembro de 2010

Turismo 2010, de Cidade e Marketing

Turismo brasileiro tem ano favorável, influenciado pelo crédito e pela classe C
CAMILA F. DE MENDONÇA, InfoMoney

Em crises, o turismo e lazer são os primeiros itens a serem cortados do orçamento dos mais cautelosos. Em dias de bonança, são os primeiros a voltarem para a lista de gastos. Em 2010, o turismo do País sentiu os dois lados da moeda, prevalecendo o mais positivo.

O aquecimento acelerado da economia no segundo trimestre e a estabilidade econômica mantida ao longo dos meses geraram emprego, elevaram a renda da população e ascenderam milhões de pessoais à classe média. E o turismo logo sentiu as mudanças. "A crise econômica internacional afetou muito pouco o Brasil, principalmente o setor de turismo. Com a economia estável, as pessoas estão ganhando mais e sobra para turismo e lazer", afirma o diretor da Abav Nacional (Associação Brasileira de Agências de Viagens), Leonel Rossi Júnior.

Essa estabilidade, afirma Rossi, já elevou as vendas de pacotes internacionais em 15% e as das viagens domésticas em 20%. Os números devem ser ainda melhores, uma vez que o total de desembarques nacionais e internacionais cresceu 24% e 21% de janeiro a novembro, respectivamente, segundo o último balanço da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).

Parte dessa retomada do setor deve-se, na avaliação do presidente da Braztoa (Associação Brasileira de Operadoras de Turismo), José Eduardo Barbosa, aos meios encontrados pelas empresas do segmento para atrair os novos consumidores, que agora passam a ver no turismo mais um item de consumo. "O setor reagiu, buscando de forma criativa e prática alcançar os anseios dos passageiros, oferecendo preços especiais e ampliando o crédito", diz.

Classe C
Essa população da qual fala Barbosa foi destaque neste ano. A classe C, também chamada de a nova classe média, hoje representa a metade da população do País e sua massa de renda deve superar este ano R$ 427 bilhões, segundo dados do instituto de pesquisa Data Popular. O instituto constatou que 8,7 milhões de brasileiros das classes C e D pretendem viajar de avião pela primeira vez.Dos brasileiros que pertencem à classe C, 53% afirmaram nunca ter viajado de avião. Diante de um potencial tão grande, este ano foi marcado por estratégias de empresas aéreas para atrair esse consumidor que tem renda e vontade para viajar. Com isso, TAM e Azul firmaram parcerias com o varejo para a comercialização de passagens aéreas com grandes redes varejistas, como Casas Bahia e Extra.

As operadoras também ampliaram o número de prestações para aqueles que buscavam um pacote. "As operadores de turismo, que antes ofereciam parcelamentos curtos, estão oferecendo parcelamentos em 24 meses. A grande maioria oferece parcelamentos em 10 vezes, para acompanhar os outros produtos em destaque no mercado, como automóveis e eletrodomésticos", afirma Barbosa.

Para ele, a classe C passou a ser um grande nicho a ser explorado em 2011. "O mercado de operadoras e agências historicamente trabalhou para as classes A e B. Agora, com esse cenário, os operadores e agentes iniciam um trabalho de apresentar para esse público [classe C] as vantagens de viagens de lazer no País", diz Barbosa.

Rossi reconhece o potencial da classe C no turismo, mas afirma que, apesar do crescimento forte desse segmento da população, sua representatividade no turismo ainda é muito pequena. "A classe C está se inserindo mais no setor de viagens familiares. São pessoas que estão deixando o ônibus de lado e estão usando avião. Mas essa classe tem que ter mais dinheiro para fazer turismo no sentido mais amplo", ressalta.

Crédito e dólar
Rossi afirma que, apesar dessa ressalva, o setor trabalha para que esse segmento da população tenha opções mais em conta no mercado. O parcelamento maior oferecido tanto em passagens como em pacotes é mostra, na avaliação de Rossi, de que o mercado trabalha para alcançar os novos consumidores. "A inserção dessas pessoas vai ser gradativa, mas ainda é pequena".Nem as recentes medidas do Banco Central devem impactar o setor no próximo ano. "A pessoa que faz turismo não faz crédito muito longo, por isso, não há impacto para o turismo", ressalta o diretor da Abav Nacional.

"Temos a cultura de comprar a prazo, essas medidas podem mudar esse hábito", acredita Barbosa. "Ao invés de comprar parcelado, o consumidor vai tentar evitar os juros", ressalta. Para ele, com o crédito maior e as facilidade de aquisição de pacotes de passagens, o turismo jé entrou na cesta de consumo dos brasileiros.

Enquanto o crédito ajudou a elevar o setor neste ano, o segundo semestre reservou uma surpresa para o segmento. "Os brasileiros tiveram uma grande oportunidade em função do câmbio, com a moeda brasileira valorizada frente ao dólar. Somado a isso, a crise que ainda persiste na América do Norte e em países europeus estimulou o turismo internacional", afirma Barbosa, presidente da Braztoa.

Futuro
Se 2010 foi um ano bom para o turismo do País, apesar da fuga de muitos brasileiros para destinos internacionais, 2011 promete ser um ano de equilíbrio. "Nas viagens nacionais, o crescimento deve continuar: 2011 tem tudo para se vender turismo e aos poucos a classe C irá se inserindo nesse setor", projeta Rossi, da Abav.Embora 70% do turismo do País seja de negócios, o turismo de lazer começa a ganhar espaço, principalmente devido à divulgação do País, estimulada pelos jogos de 2014 e 2016. O país, afirma Rossi, está se preparado para a Copa e para a Olimpíada, exceto no que se refere à infraestrutura. "Nós temos uma infraestrutura muito precária, seja de transporte rodoviário, seja da parte aeroportuária, que é preocupante", diz.

A infraestrutura para Barbosa também é o ponto mais importante a ser visto pelo Governo. "No caso do setor empresarial, o principal ponto é a preparação de mão de obra", afirma. "Temos de preparar o País para esse novo patamar de consumo".  Para o próximo ano, Barbosa estima um crescimento entre 10% e 12% no setor das operadoras. "Os números de crescimento de 2010 são expressivos, em função das quedas de 2009, e acreditamos que teremos um crescimento superior ao do PIB, porém, não a números iguais a este ano", afirma. "Nossa expectativa para 2011 é de um crescimento importante, com destaque para crescimento de turismo doméstico".

Fonte: InfoMoney

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