Engana-se quem imagina que o único desafio do governo na realização Copa do Mundo e da Olimpíada é garantir o bom funcionamento de aeroportos, estádios e transporte público. A perspectiva de uma enorme demanda por troca de moeda estrangeira concentrada em um único mês também é motivo de preocupação e tem sido alvo da atenção do Banco Central.
A expectativa é que cerca de 500 mil turistas visitarão o Brasil, além de 15 mil jornalistas, voluntários e funcionários da Fifa. Diante desse quadro, a avaliação de fontes do governo é de que os postos de atendimento para câmbio ainda são insuficientes, tanto nas cidades sedes dos dois eventos esportivos, como nos municípios vizinhos, que também receberão visitantes.
Há menos de mil correspondentes cambiais espalhados pelo país e um número pequeno das 170 instituições fazem operações de varejo em suas agências para não-clientes, devido ao alto custo e baixo retorno. Boa parte da demanda é atendida pelos hotéis e, obviamente, pelo mercado paralelo.
Para identificar os problemas e buscar soluções para ampliar a capilaridade, o BC vai promover em maio um seminário internacional sobre o tema. A ideia é chamar representantes do mercado e do governo, incluindo especialistas de países que já sediaram grandes eventos esportivos, para comparar os modelos e saber onde o país pode melhorar em termos de regulação.
Segundo avaliação oficial, uma das explicações para a pequena oferta de casas de câmbio é o baixo fluxo de turista para o país. As trocas no ano passado feitas por estrangeiros somaram pouco mais de US$ 1,6 bilhão. Há também uma questão cultural. Com seguidas crises de Balanço de Pagamento, o mercado de câmbio no Brasil foi ficando cada vez mais fechado, com normas e regulações feitas para impedir a saída de moeda estrangeira.
Outro problema é a burocracia, que acaba fomentando o mercado paralelo. Mesmo com as aberturas recentes feitas na legislação, a troca de moedas ainda é muito burocrática. Como lembra Andreas Wiemer, vice-presidente do grupo Confidence, se um estrangeiro quiser trocar US$ 1, ele terá que apresentar passaporte no momento da transação e a corretora precisará informar todos os dados da operação ao BC. Ele lembra que em outros países, como a Inglaterra, as casas de câmbio não precisam informar os dados em troca de até 3 mil libras.
Segundo ele, a Confidence fechou cinco postos de atendimento nos últimos dois anos em locais como Praia do Forte (BA), Sauípe (BA) e Praia do Pipa (RN), justamente pela concorrência com o mercado paralelo. "Esses eram postos na praia, onde até o sorverteiro troca dólar", diz Wiemer.
Há ainda um limite no Brasil para as trocas de estrangeiros acima de R$ 10 mil. A partir desse valor, se um turista quiser comprar reais, os recursos terão que ser depositados em conta corrente no país.
O próprio BC entende que o excesso de burocracia pode incentivar o mercado paralelo. O dilema, entretanto é fomentar a expansão do segmento (inclusive para a realização de transferências de pequeno valor para o exterior), sem comprometer a segurança do sistema e impedir a lavagem de dinheiro.
21 de fevereiro de 2011
Câmbio para turista é desafio para BC, Fernando Travaglini (Valor Econômico 21/2/2011)
10:26
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